data-filename="retriever" style="width: 100%;">Khalil Gibran escreveu que não devemos procurar "um amigo para matar as horas, mas para viver com ele horas da nossa vida." Isto se aplica ao meu verão, pois há anos passo férias no mesmo lugar. Não é um lugar luxuoso, é maravilhoso e enche meu coração. Lá, o dia é aproveitado e vivido com seres inesquecíveis, e entre eles está Mateus, o meu fiel amigo, vizinho e companheiro de horas alegres.
Eu e Mateus, apesar de querermos nos encontrar nas outras estações, nunca conseguimos. Como eu, ele tem a agenda cheia e ainda depende de quem o transporte. Aí vem o verão nos atualizar.
Este ano nosso primeiro encontro foi hilário, comemos uvas, segredamos aventuras do ano da pandemia, que ele definiu assim: "é uma doença. Não! É vírus que faz a gente ficar doente." Depois falamos do Inter, dos Beatles, cantamos algumas músicas, vimos os que morreram, e ele lembrou de um Beatles que teve barba branca como a do Papai-Noel.
Noutra tarde só falamos de videogame, computador, observamos o ventilador de teto, rimos fazendo uma dancinha divertida na velocidade da hélice, e encerramos o encontro com a sinopse dos filmes vistos em 2020.
Outro dia veio o tema Natal. Mateus estava descontente, pois ficara fora do amigo secreto da família. Ajudou na entrega dos presentes, mas ninguém falou: este vai para quem está de regata preta, que era ele. Conformou-se no fim da festa ao lhe garantirem a participação no Natal 2021.
Mateus se foi, deixando um bilhete simples assim: "Gostei de passar as férias com você." No corredor voltou o olhar e disse: "lembro-me do ano passado e dos tempos que a gente se via mais." Depois tivemos pouca oportunidade de reencontro a sós neste verão, solidificar nossa valiosa amizade e desvendar a questão de como sobreviver nos outros meses longe um do outro?
O verão muda a vida, oportuniza encontro, partilha, experiência, vivência, sentimento e emoções que o ano não nos dá tempo ou espaço. No fim, este amigo de curto tempo acaba sendo bem verdadeiro, íntimo e espontâneo.
Por quê? Porque nas férias, a máscara cai, somos mais nós. Deixamos a rotina, o ter que fazer tudo certo. Somos autênticos!
A amizade com Mateus pode ser de curta duração, mas é intensa e profunda. Ele é o espelho que reflete quem sou. Ele, ano a ano, tem me mostrado isso. Temos uma amizade que não termina no inverno, simplesmente hiberna, cria um parênteses na relação. Depois retomamos, nos mimamos e trabalhamos para não perdê-la. Quanto melhor cuidarmos dela, mais tempo ficaremos juntos. Aliás, prevejo que a cada verão seremos mais distantes. Ele agora se tornou ciclista, depois jogará bola, irá para o grupo de iguais, enfrentará as mazelas da vida, afinal está fazendo 6 anos, e o mundo se descortina à sua frente.
Caro leitor, também tem um amigo de verão?